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Sávia Barreto

Sávia Barreto

Jornalista, é editora-chefe do OitoMeia. Doutoranda em Políticas Públicas e mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Piauí, com pesquisas em política, análise de discursos e gênero. Formada em Comunicação pela Universidade Estadual do Piauí. É estudante de Psicanálise na Escola Corpo Freudiano.

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Pintos e Diário do Povo patrocinam palestra de deputada em Teresina associando feminismo à perversão

Sávia Barreto - 15 de março de 2019 às 21:32
Ana Caroline Capagnolo, antipetista convicta, fará palestra em Teresina: “Feminismo: subversão e perversão” patrocinada por grandes empresas do Estado (Facebook/Ana Caroline Campagnolo/Reprodução)

Uma das maiores empresas no ramo de roupa, calçados e eletrodomésticos do estado, a Pintos, e o jornal Diário do Povo, com linha editorial de direita e cujo dono concorreu ao Governo do Estado pelo partido do presidente Jair Bolsonaro, são os patrocinadores de uma palestra da professora de História e deputada estadual eleita pelo PSL em Santa Catarina, Ana Caroline Capagnolo, que deve ocorrer no próximo dia 22 de março em Teresina, no auditório do Metropolitan Hotel, no Centro da capital. A palestra chama-se: “Feminismo: subversão e perversão”, com taxa de inscrição de R$ 25.

O tradicional colégio de classe média em Teresina, Objetivo, que teve o nome divulgado em folders que circularam pelas redes sociais e grupos de Whatsapp como patrocinador do evento, procurou esta colunista para informar que não tem qualquer relação com a palestra. Segundo a empresa, através de sua assessoria de marketing, a escola faz parte de uma rede nacional que não pode associar a imagem a eventos. Questionado se acreditam que tiveram a marca associada a fim de prejudica-los, a assessoria respondeu que sim e que já está rastreando para saber quem supostamente teria feito uso indevido da logomarca da empresa. O Objetivo informou ainda que 60% das colaboradoras da empresa são mulheres.

Um dos lados positivos de estarmos numa democracia é a possibilidade de convivermos num ambiente de ideias plurais. Empresas – ou melhor, seus proprietários – podem posicionar-se politicamente sem sofrer quaisquer restrições do Estado e isso é ótimo. Mas o público… esse pode e tem todo o direito de deixar de consumir onde os valores daquele estabelecimento se chocam com os ideais pessoais. Por isso, é preciso ter cautela a quem se dá palco, ou melhor, patrocínio. Não parece uma decisão sensata comercialmente associar o nome de uma marca a um conteúdo extremamente polêmico e controverso, como, por exemplo, ofender feministas relacionando-as à perversão.

Até porque, vale lembrar, o Piauí é o estado onde o candidato do Partido dos Trabalhadores para presidente da República, Fernando Haddad, obteve maior vantagem sobre o candidato do Partido Social Liberal, Jair Bolsonaro. Haddad venceu em todas as cidades do estado, com 77,05% dos votos. Ou seja, o estado é minoritário na política pela corrente conservadora, mesmo que admita-se ter significativas raízes conservadoras em pautas morais – especialmente pela maioria de sua população católica.

Além disso, quando se sabe que o Piauí é um dos estados com a maior taxa de feminicídios do país e que as várias correntes do feminismo trabalharam justamente para permitir a criação de leis mais duras contra a violência sofrida pelas mulheres e ainda em prol de políticas públicas que permitissem às mulheres receberem salários iguais aos dos homens e a votar e serem votadas, parece contraproducente que empresas não ajudem, por exemplo, com patrocínios de campanhas para esclarecer sobre os direitos das mulheres, preferindo, por outro lado, adotar caminhos ideológicos segregadores ao invés de agregadores.

Para quem não lembra, a palestrante Ana Caroline é a deputada alvo de uma ação ajuizada pelo Ministério Público de Santa Catarina para garantir o direito dos estudantes de escolas públicas e particulares do Estado à liberdade de aprender. Isso porque Ana Caroline Capagnolo, publicou no final do ano passado, em suas redes sociais, um pedido para que os alunos filmem condutas de professores, que segundo ela, fazem doutrinação partidária. Na ação, o MP considera a iniciativa da deputada eleita “um serviço ilegal de controle político-ideológico da atividade docente”.

Se algumas tantas mulheres que consomem os produtos da Pintos ou compram o jornal Diário do Povo que são feministas e não gostarem da associação da empresa com o patrocínio a uma exposição cujo argumento principal as ofendem, podem com toda justiça fazer um boicote e parar de investir seu dinheiro nos tais estabelecimentos. Essa é a lógica capitalista.

Folder de divulgação da palestra de Ana Caroline Capagnolo em Teresina com patrocínio da Pintos e do jornal Diário do Povo (Imagem: Reprodução)

Sávia Barreto

Jornalista, é editora-chefe do OitoMeia. Doutoranda em Políticas Públicas e mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Piauí, com pesquisas em política, análise de discursos e gênero. Formada em Comunicação pela Universidade Estadual do Piauí. É estudante de Psicanálise na Escola Corpo Freudiano.

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