Menu
redacao@oitomeia.com.br
(86) 98119-5253    29/03/2024
Cidades

Ex-prefeito de Lagoa acusado matar esposa é inocentado por impasse sobre hora da morte

Lorena Passos - 12 de junho de 2018 às 12:50
Ex-prefeito Zé Simão foi acusado na morte da esposa foi julgado e absolvido (Foto: Montagem/OitoMeia)

O ex-prefeito de Lagoa do Sítio, José Arimateia Rabelo, mais conhecido como Zé Simão, foi absolvido após votação de juri popular na madrugada desta terça-feira (12/06). Foram mais de 18 horas de audiência no Fórum de Oeiras, distante 280 km de Teresina.

Ao OitoMeia, o coordenador do juri Benedito Carneiro, disse que a primeira tática da defesa foi questionar o horário da morte de Gercineide Monteiro, na época esposa de Zé Simão, morta com um tiro no ouvido. Ao menos 14 testemunhas foram ouvidas, sendo oito de acusação e seis de defesa. Entre eles, estavam familiares, funcionários e agentes policiais que trabalharam nas investigações.

ANTES DO CRIME

Na audiência, o Judiciário relembrou os momentos anteriores ao crime. Segundo Benedito, Zé Simão e a vítima viajaram para Teresina, onde passaram o dia juntos e ao fim do dia foram jantar. Depois, ele teria ido para um sítio no município de Lagoa, algo que costumava fazer. Ela foi encontrada morta no dia seguinte, por volta das 8 da manhã.

“Havia uma vítima, uma arma, mas não autor. Porque não havia impressão digital, nem luta corporal, nem pólvora nos envolvidos. Não conseguindo provar que ele tinha feito o disparo, a acusação optou por seguir com a argumentação de participação direta no crime, de forma premeditada”, disse ao OitoMeia.

Zé Simão e Gercineide (Foto: Montagem/OitoMeia)

QUESTÃO DO CORPO

A esposa foi encontrada morta por volta das 8h pelo acusado, e depois por familiares, quando inciou uma comoção. A perícia local concluiu que a morte ocorreu horas antes, por volta das 1h da madrugada, mas uma segunda perícia particular contestou o horário. Esse impasse foi retomado na audiência, segundo Benedito à reportagem.

“A perícia afirma que um corpo leva de 7h a 8h para chegar a um enrijecimento total após a morte, a partir do rosto até as extremidades dos membros superiores e inferiores. Mas, os familiares da vítima depuseram no laudo, que ao abraçá-la, ela ainda estava ‘mole’ e havia sangue ‘pingando’. Na época, foi contratado um perito particular, que também contestou a perícia local. Esse perito acabou gerando polêmica por questionar à imprensa a questão do enrijecimento e, de certa forma, criticar o trabalho feito pelos policiais”, afirmou.

A defesa questionou que se ela foi encontrada pela manhã nesse estado, então ela não poderia ter sido assassinada por volta das 1h. “Nazareno questionou que ela não deveria estar mole, tentando desconstruir a peça acusatória. A Noêmia prestou esclarecimentos e respondeu duas perguntas: a hora que chegou na casa e quando o viu. Ela chegou por volta de 5:50h da manhã. Uma câmera de segurança, tirada de um comércio na frente da residência, mostra uma Hilux passando por volta das 5h25 da manhã como se saísse da casa do Zé Simão. Então, a defesa questionou como seria possível entregar um objeto enrolado em uma flanela vermelha, que ela não sabia o que era, e que guardasse tal embrulho quando chegou, se ela também respondeu que ele só chegou por volta das 8 horas da manhã”, narrou Benedito Carneiro.

No entanto, não foi comprovado que o carro seria mesmo dele, destacou o diretor do júri. “Como a cidade é pequena, ficou subentendido que seria dele, mas não dá para ver perfeitamente a placa. Por isso, a defesa perguntou já que foi assumido que era dele, como Zé Simão teria participado ou facilitado o crime se ele teria saído as 5h25 e voltado as 8h”, ponderou.

Fotos plenário final do júri, 3:40 da manhã desta terça (Foto: Fórum de Oeiras/ Benedito Carneiro)

A PEÇA-CHAVE: NOÊMIA

Considerada co-autora, a empregada doméstica Noêmia Silva respondeu apenas duas perguntas: quando chegou e quando viu Zé Simão. De acordo com Benedito Carneiro, ela teria escondido a arma sem saber que era um revolver, mas sim um embrulho. Em 2015, foi dito que ela e Zé Simão tinham um caso extra-conjugal.

“Ela colocou entre as telhas, sobre a laje e voltou. Ela foi periciada e era o mesmo projétil na vítima. Só foi estourado um cartucho e na perícia eles fizeram a comparação dos dois e foi comprovado. Mas, não encontraram resíduo de pólvora em nenhum dos três”, contou ao OitoMeia.

A empregada deve passar também por júri popular. O caso dela corre de forma paralela ao de Zé Simão, informou o coordenador.

CRIME POLÍTICO?

Também foi descartada a possibilidade de não crime. Segundo Benedito, os laudos não mostraram qualquer arrombamento ou perturbação dentro da residência do casal. A questão do relacionamento foi relembrada na audiência por testemunhas, mostrando que ambos tinham envolvimento na política local.

“Eles verificaram que não houve qualquer movimentação estranha na casa. Então, a acusação tentou desconstruir também a ideia de facilitador e participante no crime. Ficou confirmado que a vítima sofreu foi homicídio. Colocaram parentes para falar sobre a vida pessoal deles, mas não houve agressão física. O pai de Gercineide disse que nunca ouviu falar de agressão. Os desentendimentos que tinham eram por nem sempre pensar a mesma coisa em termos de política”, revelou à reportagem.

Ainda de acordo com Benedito, a defesa explorou a questão política em torno de ambos. Algo que não está comprovado ou indicado nos laudos do inquérito. “Nazareno também destacou a questão política deles, porque queriam tirar Zé Simão do poder político. Ele narrou a história do ex-prefeito, sobre ele ter saído da pobreza, virou vice-prefeito, mas assumiu porque o outro faleceu e conseguiu se reeleger. Então, Nazareno trabalhou a questão de algo encomendado e que a Noêmia seria a pessoa usada para que facilitassem ou ela cometido o crime na residência do casal, incriminando ele”, continuou.

INOCENTADO

Com a absolvição, Zé Simão foi liberado da penitenciária, onde estava preso desde 2015, ano em que ocorreu o crime. “A decisão do juri e do juiz servem como alvará, então ele já saiu livre. A acusação ainda pode recorrer sobre o caso”, finalizou ao OitoMeia, Benedito Carneiro, coordenador do juri e responsável por falar com a imprensa sobre a audiência.


Lorena Passos