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Aluno de direita diz que sofre perseguição e pensa em desistir da Ufpi: “Doutrinação marxista”

Edrian Santos - 19 de maio de 2017 às 16:29

Às vésperas das eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Piauí (DCE-Ufpi), a briga entre as ideologias políticas de esquerda e de direita está cada vez mais acirrada na instituição. Chegou-se ao ponto de um aluno de Direito da Ufpi acusar uma professora de perseguição, após a chapa concorrente à representação estudantil questionar uma “aula marxista” da professora Maria Sueli Rodrigues, ministrante da disciplina Teoria Geral do Direito. O fato decorre da última terça-feira (16/05) até esta sexta-feira (19/05).

Acusações acontecem durante aula do curso de Direito da Ufpi (Foto: Édrian Santos/OitoMeia)

O estudante Yuri Cavalcante é quem se põe como vítima no caso, após publicar uma nota de esclarecimento e desabafo em que detalha o ocorrido. O destaque vai para a possibilidade de insultos contra a ministrante da aula pela chapa composta por membros do Endireita Ufpi, fazendo com que o aluno negasse as acusações.

“Indagamos como podíamos estar agredindo-a, pois estávamos distantes e não citamos o seu nome. A professora insistiu a soltar acusações alegando que tínhamos ido a insultar, e continuo falando isso para toda turma, até que os outros alunos se retiraram e eu voltei ao meu lugar na sala”, diz em trecho do post, publicado por volta das 11h desta sexta-feira (19/05).

Yuri destaca que o caso fez diminuir a participação dele nas aulas. Ele também fala na possibilidade de mudar de instituição, devido ao que ele chama de “doutrinação” promovidas pelos professores da Ufpi. “Tal episódio me causou alguns problemas e afastamento do restante da turma. Saí do grupo de WhatsApp, a partir do momento em que o Centro Acadêmico de Direito iniciou uma campanha virtual de difamação contra mim, em vez de ajudar um aluno oprimido”, informa ao OitoMeia.

Yuri diz que Centro Acadêmico e professora estão em campanha difamatória (Foto: Ricardo Morais/OitoMeia)

Yuri é um dos militantes e fundador do grupo Endireita Ufpi. Durante as ocupações das instituições de Ensino Superior e Ensino Médio, numa campanha de vários segmentos sociais de barrarem a MP do Ensino Médio e a Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos públicos (PEC-55), ele deu uma entrevista ao OitoMeia condenando os protestos e defendendo ideologias conservadoras e liberais.

Leia também: Ocupa Ufpi: dois lados de uma Guerra Fria entre movimentos estudantis do Piauí

“Vejamos bem a resumo dos fatos, entro em sala com minha chapa que estava fazendo a divulgação de propostas pelo espaço, peço liberdade de pensamentos com eles, somos tidos como agressores por terem opiniões contrárias, sou constrangido em aula pela professora, procuro-a para tentar esclarecer o ocorrido, o CA do Direito não me procura para conversar e saber sua versão dos fatos ou se está bem pós o ocorrido, lança uma nota de apoio a professora e começa uma campanha de ódio, tolera comentários ofensivos que a professora agradece e a própria toma a mesma atitude do CA”, finaliza Yuri, em nota.

DEFESA À PROFESSORA MARIA SUELI

Por outro lado, o Centro Acadêmico de Direito lança nota em defesa da professora Maria Sueli, alegando que a mesma foi constrangida em horário de trabalho. O texto foi publicado na página oficial da entidade, por volta das 9h45 da última quinta-feira (18/05). “Durante a passagem, os discentes violaram a liberdade de cátedra da professora, questionando de maneira desrespeitosa por que ela estava lecionando sobre Marx e não sobre outro autor liberal. Falaram também sobre ‘doutrinação ideológica’ e a docente se sentiu atacada pela provocação dos estudantes”, informa parte da publicação.

Professora Sueli foi procurada, mas não se pronunciou até o fechamento desta matéria (Foto: Reprodução Facebook)

Em outro momento, a nota relata que os integrantes da chapa Endireita Ufpi saíram aos gritos da turma da professora Sueli e com gestos de comemoração, como se o “desconforto” fosse premeditado. “O CACC [Centro Acadêmico Cromwell de Carvalho – CA de Direito] repudia tais atos e manifesta apoio e solidariedade à professora e a todas/os estudantes que se sentiram desconfortáveis e/ou prejudicadas/os com a situação”, finaliza o posicionamento.

As notas citadas estão disponíveis na íntegra no final desta matéria.

O OitoMeia entrou em contato com o CA do curso de Direito, mas a reportagem foi informada de que qualquer posição da entidade vai se restringir à nota em solidariedade à professora Maria Sueli. Por sua vez, a docente nega as acusações e contra-argumenta que ela foi a ofendida e é quem está sendo perseguida pelo referido denunciante. “Eu me reportei à turma e disse que era um absurdo o que eu tinha acabado de viver ali e o Yuri reclamou dizendo que eu estava usando o meu poder contra ele. Continuei [a aula] e ele pediu para falar comigo no final”, disse ao OitoMeia.

Na conversa após o episódio, Maria Sueli ressalta ao aluno que aquele era o material planejado para a aula do dia e que não tinha como aderir às sugestões da chapa Endireita Ufpi naquele momento. “Expliquei que ele não assiste as minhas aulas e comenta nos corredores que eu só falo besteira nas minhas aulas. Terminamos com ele pedindo desculpas, como se, por acaso, eu tivesse me ofendido”, relembra. Sentindo-se perseguida pelo grupo do aluno em questão, a professora confessa que está em um estado de depressão, desde o ocorrido.

Em contato com a Universidade Federal do Piauí (Ufpi), a instituição informou que não pode se pronunciar até ser notificada oficialmente. A reportagem também entrou em contato com a Coordenação do Curso de Direito, mas as ligações não foram atendidas.

CONFIRA A NOTA DO ALUNO

Nota de ESCLARECIMENTO E DESABFO

Alguns alunos da chapa Endireita UFPI, da qual eu faço parte, estavam fazendo a passagem de salas no curso de Direito no espaço integrado do CCHL. Ocorreu de passarem na sala em que eu estava assistindo aula dessa matéria ‘Teoria Geral do Direito’, então me levantei para entrar junto com a chapa e me apresentar a turma. Durante a apresentação os alunos falaram das propostas, porém em nada atacaram a professora que estava ministrando uma aula da disciplina ‘Teoria Geral do Direito’ e o conteúdo ministrado era sobre Marx. Porém os outros membros não tinham conhecimento do que estava sendo ministrado pois nenhum deles tinha algum vínculo com a disciplina ou com a professora a não ser por mim que estava em sala assistindo a aula. Eu mesmo não tinha conhecimento do conteúdo pois na próxima aula da professora seria prova e estava em aula porque acreditava que seria revisão. Passado a apresentação, em que foram abordados diversos temas, inclusive sobre a perseguição a pensamentos diferentes dentro da universidade e a doutrinação ideológica, a professora alegou está sendo agredida por nós. Indagamos como podíamos estar agredindo-a pois estávamos distantes e não citamos o seu nome. A professora insistiu a soltar acusações alegando que tínhamos ido a insultar, e continuo falando isso para toda turma, até que os outros alunos se retiraram e eu voltei ao meu lugar na sala. Após a saída da chapa a mesma professora ficou comentando o acontecido por vários minutos em sala, sob o seu ponto de vista, utilizando-se do poder de persuasão e da autoridade que lhe é confiada pelo estado para dizer que a chapa tinha ido ali de caso pensado para agredi-la, e que os mesmos queriam tirar Marx do ensino das universidades e perseguir professores, falando isso também para mim que fiquei na sala para continuar a assistir a aula. A professora me constrangeu de várias formas e não me deu o direito a explicar meu posicionamento. Tentei, após a aula, esclarecer o acontecimento com a mesma que saiu convencida de que aquilo era um ataque.

Alguns dias após o ocorrido o CA de Direito lançou uma nota de apoio a professora que segundo a narração dos fatos que apresentaram se sentiu agredida com os alunos. Aonde na mesma publicação a vários comentários os chamando de fascistas. O que não consta na publicação do CA é a versão dos fatos de acordo com a outra parte. A publicação do referido CA serve como um depósito de ódio, onde foram depositados ofensas e percepções unilaterais. A própria professora respondia as ofensas com agradecimentos, e postou em sua página pessoal publicação semelhante à do CA. O resultado dos posts é a dispersão de ódio para que os alunos da chapa se sentissem errados em divulgar o seu pensamento. Tenho tudo em print.

Não sei ao certo a que ponto toda essas calunias, ofensas e constrangimentos me afetaram, mas estou em choque, sem ao menos conseguir ir as aulas. Isso tem afetado meus estudos e estou em busca de ajuda medica para conseguir superar o ocorrido. A presente docente não se preocupou em nada com as consequências que suas atitudes acarretariam nos alunos, pois estou pensando seriamente em trancar o curso e mudar de instituição. Nem ela e nem o CA procurou em algum momento contato comigo para saber qual meu posicionamento ou versão dos fatos, apenas agiram unilateralmente e iniciaram uma verdadeira campanha de ódio contra mim e os outros alunos da chapa.

Vejamos bem a resumo dos fatos, entro em sala com minha chapa que estava fazendo a divulgação de propostas pelo espaço, peço liberdade de pensamentos com eles, somos tidos como agressores por terem opiniões contrárias, sou constrangido em aula pela professora, procuro-a para tentar esclarecer o ocorrido, o CA do Direito não me procura para conversar e saber sua versão dos fatos ou se está bem pós o ocorrido, lança uma nota de apoio a professora e começa uma campanha de ódio, tolera comentários ofensivos que a professora agradece e a própria toma a mesma atitude do CA.

CONFIRA A NOTA DO CENTRO ACADÊMICO DE DIREITO

[NOTA DE SOLIDARIEDADE À PROFESSORA DRA. MARIA SUELI RODRIGUES]

O Centro Acadêmico Cromwell de Carvalho vem a público manifestar apoio e solidariedade à professora Dra. Maria Sueli Rodrigues que, na última terça-feira (16), foi constrangida por estudantes da UFPI.

Sueli ministrava aula normalmente, quando estudantes pediram para entrar na sala com o objetivo de divulgar uma chapa para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Durante a passagem, os discentes violaram a liberdade de cátedra da professora, questionando de maneira desrespeitosa por que ela estava lecionando sobre Marx e não sobre outro autor liberal. Falaram também sobre “doutrinação ideológica” e a docente se sentiu atacada pela provocação ds estudantes, que continuaram a responder, mesmo sem saber muito sobre a matéria, a ementa e o Plano de Curso. Devido aos ataques pessoais e ao desrespeito, foi causada uma atmosfera instável e tensa dentro da sala de aula.

Destaca-se ainda que, após as provocações, os estudantes saíram de sala aos gritos e com gestos de comemoração, como se tivessem alcançado algum objetivo premeditado.

O CACC repudia tais atos e manifesta apoio e solidariedade à professora e a todas/os estudantes que se sentiram desconfortáveis e/ou prejudicadas/os com a situação.

Teresina, 18 de Maio de 2017


Edrian Santos