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Pagamentos de bolsistas e salários de terceirizados atrasam na UESPI

Margella Furtado - 21 de fevereiro de 2017 às 16:30

Os programas de bolsas estudantis da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) estão em atraso há dois meses incluindo o Bolsa Trabalho e o Bolsa Estudantil dos programas de extensão e monitoria. A denúncia foi repassada à reportagem do OitoMeia por estudantes que estão se sentido lesados pelo não pagamento a ser feito pela instituição.

“Desde janeiro que retornamos do recesso nós não recebemos a bolsa. Procuramos os responsáveis e nada. Sempre enrolando a gente dizendo que na próxima semana iriam pagar e até agora não pagaram. Nós estamos vivendo de promessas. A gente passa praticamente o dia todo na Uespi, trabalhamos 20 horas semanais, quem trabalha ou estuda de manhã e trabalha a tarde ou vice-versa”, reclamou Jéssica  Bastos, estudante do curso de Ciências Sociais.

Pró-Reitoria de Planejamento e Finanças da Universidade Estadual do Piauí / (Foto: Margella Furtado)

Ela acrescentou que essas bolsas já são destinadas à pessoas que tem uma baixa renda familiar e por isso muitos desses estudantes precisam desse pagamento. “De certo modo nós dependemos desse dinheiro para se manter, para ir para a universidade, para pagar os passes, tirar xeróx etc”, disse Jéssica, que tem 20 anos.

Jéssica Batos, aluna reclama do atraso / (Foto: Reprodução)

Jéssica trabalha como bolsista no Núcleo de Pesquisa em Ciências Sociais (NUPECSO) e disse que já chegou a pensar em desistir do curso por não ter condições de se manter. A bolsa trabalho é no valor de R$ 400 reais e o último pagamento feito foi referente ao mês de novembro. “Dezembro e janeiro estão atrasados”, relatou.

DIFICULDADES
“Entrei no programa justamente para conseguir continuar na universidade, até porque essa é a proposta do programa. Além dos custos básicos de transporte, tenho que tirar do próprio bolso para os materiais e tudo que envolve um projeto de extensão. E falando por quem é do bolsa trabalho, a situação é desumana. Ninguém pode trabalhar sem receber. Passam o dia na universidade, e sofrem com esses atrasos. A bolsa está afastando o aluno da instituição”, disse João Pedro Alves estudante que também está com a bolsa atrasada. A última bolsa caiu no dia 27 de de dezembro de 2016, e segundo Maiara Luisa de 21 anos e estudante de Ciências Sociais não é a primeira vez que atrasos como esses ocorrem com relação ao pagamento.

“Já aconteceu de passarmos de três a quatro meses sem receber e nós que somos bolsistas estamos saturados de sempre ter que cobrar algo que é de direito nosso porque muito dos bolsistas exercem um papel de técnico seja na coordenação ou em alguns setores da universidade”, frisou.

AMEAÇA DE GREVE
O Diretório do Centro Acadêmico da Uespi (DCE) se pronunciou a respeito da situação. Segundo o diretor Jonatas Dias, a culpa é da reitoria e do Governo do Estado. “A reitoria e o governo do estado não têm nenhum compromisso de pagar essas bolsas em dia para garantir a real permanência dos alunos dentro da universidade”, disse o diretor do DCE, Jonatas Dias, aluno do curso de Medicina na Facime. Segundo ele a partir da próxima semana os bolsistas da bolsa trabalho  junto com o DCE estão pensando em entrar em greve e irão procurar a mídia para denunciar o atraso.

Diretor do Diretório de Centro Acadêmico, Jonatas Dias / (Foto: Reprodução)

“O papel dessa bolsa é auxiliar o estudante, mas nós não estamos tendo esse auxílio. Há quase três meses nós estamos sem receber. No começo eles falaram que não tinham previsão de quando essa bolsa iria cair na nossa conta, falamos com o reitor e ele falou que era um problema na Sefaz e que eles estavam resolvendo, a gente só foi ter uma satisfação completa agora porque nós fomos atrás, já está com um mês que estamos nessas promessas e a bolsa ainda não caiu, estamos indignados pois estamos trabalhando de graça”, disse Natália dos Santos que trabalha como secretária no Departamento de Assuntos Pedagógicos da Uespi.

MAIS ATRASO: FUNCIONÁRIOS DA LIMPEL
Além das bolsas, há atraso também no pagamento dos funcionários da Limpel, empresa responsável por serviços gerais , assim como o repasse dos bolsistas da residência médica. Eles relataram estar com atraso de dois meses. Ao OitoMeia trabalhadores que preferiram não se identificar falaram das dificuldades que passam sem receber o salário:

“Olha a gente pede dinheiro emprestado de parente, se vira como pode, a gente tem medo de entrar em greve e ser demitido porque somos pressionados pelos chefes dizendo que se a gente sair, tem dez para entrar no nosso lugar”, afirmou o trabalhador da Limpel. Luciano José Rodrigues, integrante da Limpel, disse que os funcionários já estão em greve. “O mais grave nisso tudo é porque tem trabalhador que além do salário, tem tickets e férias atrasados. Ontem mesmo nós fomos para a frente da Limpel fazer manifestação e decidimos que se hoje não pagarem o que devem, tentaremos falar com o governador para regularizar essa situação”.

O QUE DIZ A UNIVERSIDADE
A reportagem buscou ouvir o que tem a dizer a pró-reitoria de planejamento e finanças da universidade. Segundo Paulo Henrique, pró reitor, o sistema financeiro da Secretaria da Fazenda (Sefaz) mudou no começo deste ano para melhor atender os contribuintes e por isso houve esse atraso. Antes o sistema era o SIAFEM (Sistema Integrado de Administração Financeira e Monetária). Agora o sistema mudou para o SIAF (Sistema Integrado de Ajuda Financeira).

Pró-reitor de planejamento e finanças da Uespi, Paulo Henrique Pinheiro / (Foto: Margella Furtado/ OitoMeia)

Pró-reitor de planejamento e finanças, Paulo Henrique disse que o motivo do atraso no pagamento das bolsas foi a mudança desse novo sistema, que não levou o cadastro dos 1.300 alunos. “O grande problema desse novo sistema foi porque ele não importou os dados cadastrais de alunos, professores e empresas e nós tivemos que fazer esse cadastro novamente de forma manual e para a gente fazer isso precisamos selecionar o CPF, endereço, a conta bancária do aluno e da agência além de identificar qual tipo de bolsa esse aluno está vinculado, isso de 1300 alunos”, explicou.

FOI ATÉ A SEFAZ PARA TENTAR RESOLVER
O pró-reitor disse ainda que na manhã desta segunda-feira (21/02), juntamente com o Reitor da universidade, professor Nouga Cardoso, esteve na Sefaz para solicitar a autonomia para o pagamento das bolsas e conseguiram a autorização através de um documento do recebimento de R$1.179.000 para pagar todos as bolsas pendentes.

Paulo Henrique disse que a universidade está dando prioridade para os estudantes já que são os que mais necessitam da bolsa. “É importante ressaltar que o sistema só ficou dis ponível para nós a partir do dia 10 de fevereiro, ou seja há uma semana atrás para nós fazermos o cadastro de todos novamente, mas até o final de março eu acredito que tudo já esteja normalizado. Nós gostaríamos de lamentar profundamente o transtorno causado na vida dos estudantes, dos bolsistas seja os alunos da graduação, seja os bolsistas da residência médica”, afirmou.

REITOR LAMENTA E PEDE “COMPREENSÃO”
O reitor da universidade, Nouga Cardoso, também falou ao OitoMeia sobre o caso. Disse que  é importante explicar que essa sistemática de pagamento não selecionou setores específicos. Mas sim atingiu a todos: tanto os prestadores de serviços, empresas terceirizadas e só não foi atingida a folha de remuneração dos professores e técnicos administrativos porque quem faz a gestão dessa folha é a secretaria estadual de Administração.

Reitor, professor Nouga Cardoso / (Foto: Margella Furtado/ OitoMeia)

O reitor informou que os pagamentos não foram feitos por opção da universidade: “Na realidade o sistema que gerencia a Sefaz mudou visando uma melhor administração, infelizmente esse sistema não conseguiu absorver todos os dados e informações do programa que estava anteriormente. O problema foi que após o dia 8 que o sistema abriu para o pagamento nós ficamos sabendo que o sistema não fazia a importação desses dados e nós tivemos que refazer esse cadastro”, disse. Nouga pediu pela compreensão de todos: “Nos próximos meses isso não vai mais acontecer. Nós entendemos as reclamações dos estudantes, eles estão correto em reclamar, mas nós gostaríamos de solicitar compreensão mesmo sabendo do momento difícil. Isso não é algo que dependa exclusivamente da Uespi em detrimento da gestão do orçamento financeiro do Estado”.

RESPOSTA DA SECRETARIA DA FAZENDA
De acordo com o superintendente do tesouro do Estado, Emílio Júnior, o problema se deve mesmo a esse novo sistema implantado pela Sefaz. Segundo ele, o Governo adquiriu um novo sistema financeiro que vai desde o planejamento do orçamento, e que por isso está encontrando alguns problemas para regularizar a situação das PDs (Pedido de Desembolsa).

“Por se tratar de um novo sistema único estamos tendo algumas dificuldades por ele ser novo, mas hoje mesmo eu já autorizei  a liberação do pagamento dessas bolsas para a Uespi, antes o sistema era separado, agora ele é único, mas tudo vai se normalizar nos próximos meses”, finalizou.

Emílio Júnior, da Sefaz, explica o que realmente aconteceu Foto: Divulgação)

Margella Furtado