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Artes Marciais

Com piauiense na “filosofia da porrada”, Academia Evolução Thai cresce no UFC

Victor Costa - 8 de novembro de 2016 às 16:54

A Evolução Thai leva seu nome ao pé da letra. A academia curitibana tem se notabilizado por recuperar e desenvolver atletas que, antes, contavam com a desconfiança do público. Dentre todos os brasileiros do UFC, existem dois que mostraram evoluções incontestáveis em suas trajetórias no evento: Francisco Massaranduba e Godofredo Pepey livraram-se do estigma do “é só mais um” para alcançar o patamar de promessas em suas respectivas categorias. Em comum, os dois têm o fato de treinarem na Evolução Thai, que foi uma das únicas academias a se manter no topo desde que a USADA (Agência Americana de Antidoping na sigla em inglês) passou a controlar os exames antidoping do Ultimate.

Sob a batuta do mestre André Dida, Pepey, que perdeu a final do TUF 1 para o hoje companheiro de equipe Rony Jason, em 2012, teve nítida evolução em seu jogo de MMA, e, agora, vem de sequência de quatro vitórias em cinco lutas. De acordo com o lutador, boa parte do crédito pode ser depositado na conta de Dida.

– O Dida é f***. Vejo ele como um espelho, um cara a ser seguido. É um cara novo que sai na porrada com geral, vivencia tudo do mais perto possível. Busca melhorar todos os atletas dele e entra na mente de seus guerreiros. É um cara muito inteligente. Como ele fala, tem que ser “CDF” da parada (risos). Isso contribui muito para a minha evolução. Ele é o mentor da galera da porradaria. Eu era um atleta e agora sou outro, com outra visão. Aqui na academia, procuro dizer que apanho todo dia, e não é mentira, não. Sou forjado no aço, esse é o modo do Dida trabalhar.

Poucos treinadores literalmente “saem na porrada” com seus alunos. É o caso de Dida, que faz parte da nova geração de técnicos. Com apenas 33 anos de idade, o ex-lutador do Dream e do K-1 deixou os ringues de lado para dedicar-se à Evolução Thai. É nas sessões de sparring que ele procura desenvolver o potencial de seus alunos ao máximo. No caso de Pepey, Dida também precisou ser psicólogo.

– Quando o Pepey veio para cá, ele rendia uma coisa no treinamento e, na luta, era outra pessoa. Ele puxava o cara para guarda e fechava os olhos ali, não escutava o córner e deixava os caras baterem nele. A gente via que, no caso do Pepey, era mais um erro psicológico. E eu sempre conversei com ele. Falava com ele: “Pepey, você é uma Ferrari que não sai da primeira marcha, cara. Eu preciso que você me escute, preciso que você confie em mim”. E ele estava vindo de duas ou três derrotas e ia pegar um cara do jiu-jítsu, e eu falei para ele: “Pepey, joga uma joelhada projetando que você vai nocautear esse cara. Esse cara é do jiu-jítsu, ele vai querer ficar te derrubando. Suas últimas derrotas foram na guarda e ele vai querer ficar trabalhando ali”. Então, depois de duas entradas de queda do rival, ele jogou a joelhada e nocauteou o cara. Ali, eu ganhei o atleta para sempre. Ele começou a me escutar mais, a confiar mais em mim – conta André.

Com Massaranduba, o foco foi no treinamento. Quando o piauiense chegou à academia, vinha de derrota para Gleison Tibau no Ultimate, e apresentava um arsenal limitado de golpes. O primeiro passo foi adicionar ao seu jogo o soco frontal do caratê, que foi popularizado por Lyoto Machida. Hoje, “Massara” acumula sete triunfos seguidos e desponta como um dos bons nomes da categoria dos leves.

– O “Massara” só sabia cruzado quando chegou aqui. Então começamos a trabalhar a movimentação e adicionamos o direto do Lyoto (Machida) na trocação dele. Eu acredito muito que, no octógono, você tem que ter a movimentação. É um jogo de muita tática. Aí ele começou a trabalhar mais o muay thai e a ter mais volume de mão, e hoje essa é uma das características principais dele. E bastante chute. Então a gente acrescentou esse muay thai para o MMA, que é aquele muay thai de um golpe só, porque a gente sabe que o MMA é assim: um golpe e a luta acaba. Então, com o “Massa” não foi problema de escutar. Ele escuta e faz tudo. Mas o melhor ainda está por vir para ele. Tenho certeza que para as próximas lutas ele vai se soltar bem mais, porque ele tem muitos golpes. A gente treina muito movimento com o Massaranduba. No treino, ele solta muitos golpes perigosos, é bom em todas as áreas. Tenho certeza que a gente vai chegar nas cabeças muito rápido – aposta o treinador.

Se Dida é o responsável por apurar o muay thai da galera, o jiu-jítsu fica por conta de Serginho Moraes, que, além de lutador do UFC, já foi campeão mundial na arte suave. Massaranduba exalta o papel dos “treinadores-lutadores” nos treinamentos.

– Eu falo para todo mundo que o meu melhor sparring é com o Dida. Ele fala e faz. Bota as luvas, sai na porrada e nos corrige durante os treinos. Além disso, os parceiros são muito bons, todos mais ou menos no mesmo nível. São os caras que estão lutando nos pequenos eventos que me dão mais treino. E na hora que eu entro para lutar tento ouvir só a voz do Dida, me concentrar nela. Confio muito nele. Vamos botar vários moleques aí no UFC. Tenho certeza que é questão de tempo para a Evolução Thai ter um cinturão do UFC. .

Dada sua pouca idade, Dida é visto mais como “irmãozão” do que como “paizão” pelos atletas da academia. O treinador não tem dúvidas de que sua recente experiência nas artes marciais é um dos segredos do sucesso da Evolução Thai, assim como o método de treinamentos, que é totalmente voltado para o MMA.

– Já passei por tudo o que um atleta pode passar dentro da luta. Quando um lutador passa por uma situação ruim, eu sei exatamente o que falar para ele. A grande charada de tudo isso é que eu sou como eles. Não sou um preparador físico, um empresário ou um cara que nunca lutou na vida e que dá aula de luta. Eu sou um lutador que se afastou da luta para dar aula. Então, eu hoje tenho entendimento de 100% do que acontece, dentro e fora do octógono. É a mesma coisa você pegar o Zico como jogador e hoje ele como treinador. Quando ele fala para o jogador dele, ele dá ele mesmo como exemplo. Então, eu consigo explorar o melhor deles porque sou um deles. E eles conseguem absorver muito mais rápido os meus conhecimentos por causa disso. Eles sabem que eu sou um guerreiro como eles. Eu também tenho cicatrizes na minha cara, de lutas, como eles. Eles enxergam e respeitam isso.


Victor Costa