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Elói Freire

Sobre apropriação cultural e culinária

adm86 - 2 de março de 2017 às 00:38

Muito se tem discutido ultimamente sobre a questão da apropriação cultural, desde se existe ou não até como se deve ser uma questão trabalhada, mas pouco se desenvolveu o tema para além do turbante e religiões. Sou abertamente do time que não acredita que isso exista e darei minhas razões baseadas no meu campo de trabalho e estudo ao longo desse texto, mas que podem ser derivadas para outras áreas ou se abstrair as idiossincrasias e se analisar apenas a questão macro.

Primeiramente essa bandeira de apropriação cultural no caso específico do turbante acredito ser bem preconceituosa e leviana, pois trata-se com uma visão pan africanista algo que está longe de ser meramente africano ou de se ser comum a todos do continente. A África é um dos maiores continentes, berço da civilização e que tem um número gigantesco de etnias, línguas e religiões.

Se prega-se tanto a diversidade que há entre os índios americanos, os países europeus e outro grupos gerais por aí afora o que se pensar de um continente que abriga o ser humano desde antes dele existir? Se nos ofendemos quando qualquer gringo pensa que Buenos Aires é a nossa capital com que direito pessoas que nem sabem quantos países falam português naquele continente podem atribuir à todos os africanos o turbante? Alguém aqui usa sombrero por acaso? Se defende o turbante como um acessório religioso pelo menos saiba de que religião se fala.

Em segundo lugar essa troca cultural de itens não é ruim, é virtuosa e enriquece todos os povos envolvidos, ainda sobre vestimenta podemos falar sobre as gravatas, que tem origem croata, mas soldados franceses em expedição gostaram e aderiram, logo depois todos os franceses e de lá para o mundo. Ainda falando sobre franceses e soldados, foi a roupa destes que embasaram Careme no sec XVII a criar o uniforme de cozinheiro que é padrão mundial nos dias de hoje, além do uniforme a organização da cozinha em brigadas tem origem no exercito francês, que também ajudaram na criação da margarina e da maionese.

Outros exemplos de trocas de itens temos numa pizza, a criação é italiana e bem documentada (falarei em outro texto junto com receita), mas na pizza temos pão (egípcio), queijo (grego), tomates (americano) entre outros ingredientes tão variados como shitake (japonês) e carne de sol (nordestina), alguém achou ruim essa bagunça multicultural?

Falam muito do valor religioso que o turbante tem e que o capitalismo desconsidera isso. Verdade, mas você sabia que o seu milho era sagrado para os povos indígenas? Eles provavelmente não gostariam de ver a forma como a pipoca é ensacada e feita sem nenhum tipo de ritual. Além do clássico exemplo das vacas indianas. Disso temos que algo só pode ser considerado sagrado quando se está no meio que considera aquilo sagrado, se você não venera uma picanha não há por que fazer o mesmo com um pedaço de pano.

Toda essa conversa serviu apenas de divulgação do turbante e mais pessoas usarão. Isso não é ruim.

Mais lojas venderão o artigo. E isso também não é ruim.

Ruim é haver pessoas que querem separar tudo em grupos e não deixar com que pessoas conversem, se integrem e interajam. Viva a liberdade de credo que permite com que se use turbante, mas pode ter certeza que isso muito deve a liberdade de comércio que fez com que milhares de anos atrás rotas comerciais passassem entre diferentes religiões, levando produtos, usos e costumes de um canto a outro do planeta, fazendo com que nós hoje tenhamos conhecimento tanto de um caso em Curitiba, quanto acesso ao turbante e principalmente a pizza supra citada, entre outros exemplos.

Obs.: Peço desculpas pela demora em atualizar, algumas coisas acontecendo, mas em breve regularizo as postagens.


adm86